domingo, 21 de dezembro de 2008

Memória ao Conservatório Real

Frei Luís de Sousa é um misto das fábulas de Ésquilo, Eurípides e Sófocles - severa, apaixonada e energética e natural respectivamente -. Difere destas pelo uso do espírito cristão - o forte desespero, a morte, a esperança - que faz desta obra um drama romântico. A comparação feita entre estas personagens mitológicas e as personagens da obra, evidencia a superioridade destas.
Não são conhecidos venenos ou punhais mortais nesta obra. A morte é tida com maior sentimento, como uma tragédia atenuada pela passagem do mundo mortal ao reino dos céus, num encontro com Deus.
É afirmado, por Almeida Garrett, que a sua obra não é uma tragédia devido à ausência de poesia, visto Frei Luís de Sousa ser 'o mais perfeito prosador'.
Ao contrário da moda da época, Garrett renunciou ao uso de vilões, assassinos ou mortes violentas para atrair o interesse dos espectadores, optando pela utilização de expressões que reflectissem sentimentos fortes como o terror e a piedade.
A obra Frei Luís de Sousa foi inspirada na Memória do Sr. Bispo de Viseu, D. Francisco Alexandre Lobo e Frei António da Encarnação.
Almeida Garrett diz-se obrigado a respeitar a verdade poética à verdade histórica; O que faz é pelo povo, e, num século democrático, o povo quer a verdade.
'É virar as costas ao Éden de regalos e preguiçosos folgares, para entrar nos campos do trabalho duro, onde a terra se não lavra senão com o suor do rosto; e, quando produz, não são rosas nem lírios que afagam os sentidos, mas plantas - úteis, sim, porém desgraciosas à vista, fastientas ao olfacto - é o real e o necessário da vida.' Com estas palavras se despede Garrett, afirmando que o real e o necessário da vida é o prazer que retiramos do verdadeiro trabalho pessoal. A planta que plantámos, colhemo-la e é-nos mais essencial à flor mais bonita para a qual olhamos.

Alterações Climáticas - Primeiro Ministro


Este é, de facto, um tema abordado mundialmente e de total importância, tendo em conta a qualidade de vida futura no planeta. Sendo assim, qualquer tentativa de melhoramento deste nosso mundo é bem vinda e, por isso, mais facilmente aceite.

O Primeiro Ministro, neste seu discurso, dirigido ao Presidente e Deputados, começou por revelar a importância de mudarmos de atitude, afirmando que estas alterações climáticas existem realmente e que o Homem é o grande culpado. Antes de revelar as suas ambições para o país, com vista à resolução deste problema mundial, José Sócrates fala de como o país se encontra, actualmente (2007), em relação a este problema ambiental e insiste numa crítica aos antigos governadores do país, afirmando que esta evolução apenas é possível devido aos 'bons resultados' do trabalho realizado pelo actual Governo.

Concluí-se, portanto, que o seu discurso é bastante apelativo e bem elaborado, apenas a acentuação é pobre. Não recorre ao uso de muitas figuras estilísticas, apenas a invocação é notável. Os argumentos apresentados são fortes e de fácil aceitação por parte do auditório.


Discurso: Intervenção do Primeiro-Ministro no debate mensal na Assembleia da República sobre Alterações Climáticas.

V Império


Padre António Vieira destacou-se pelas suas profecias e utopia, intervindo na política do Brasil com críticas e denúncias à corrupção nacional, recorrendo a um discurso alegórico e metafórico, aplicando as palavras da Bíblia à realidade.
Sob Influências de crenças Sebastianistas, Padre António Vieira idealizou um império organizado de forma a que a felicidade se tornasse mundial. Esse seria o Império Português, comandado por D. João IV (foi proclamada a sua ressurreição no mito de Bandarra). Este seria o último da história da humanidade e superior a qualquer um dos quatro impérios antecedidos - Assírio, Persa, Grego e Romano -.
Este V Império visava a harmonia entre povos e a paz mundial.
Portugal caminhava para a decadência, o que mostrou desacordo entre Padre Vieira e a Inquisição, uma vez que este afirmava a ascendência do país aquando tal peregrinação à decadência política, tendo sido condenado à prisão.
Padre António Vieira dizia a ascendência espiritual, a ascendência enquanto pessoas. Acreditava que o povo lusitano era o ideal, o escolhido para suportar este império de união, fé e perfeição enquanto pessoas e enquanto cristãos.

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

'Os nossos olhos são diferentes todos os dias'

Meus amigos, quantas vezes a nossa memória nos leva ao passado? Um passado recente... Um passado longínquo...
Quem, de vós, não recorda um momento delicado? E quem, de vós, reflecte sobre esse momento e o torna a olhar com outros olhos?
Todos temos lembranças de situações que, no momento, nos fizeram sentir, possivelmente, ridículos, ora, hoje, ao recordarmos tal situação, podemos sentir completa imparcialidade a tal situação, outrora ridicularizada.
Acredito que todos tenhamos tido na vida alguém que olhávamos como um todo, mas que, com o passar dos dias, esse todo se tenha tornado apenas uma parte e, quando parámos e olhámos para o presente, esse alguém simplesmente já não existia. Isto acontece pelo facto de nascermos condicionados e inexperientes, nas experiência que é a vida. À medida que crescemos, a visão que tínhamos de cada circunstância, condicionada por capacidades até então não desenvolvidas, vai alargando, vamos adquirindo experiência e vamos olhar para o passado com outros olhos, desta vez, mais conhecedores.
Visualizemos e coloquemos-nos no lugar de uma criança cujos pais faleceram recentemente e, como tal, essa criança vive sob a guarda de alguém, com quem, desde então, desenvolveu afectos e muita proximidade. Chega um belo dia e essa criança descobre que afinal vivia com o assassino dos seus pais e que nele havia depositado toda a sua confiança e amor.
Ora, como iria olhar para esse alguém? Da mesma forma como olhava aquando ignorante da verdade?
Mesmo os mais insignificantes momentos apoiam esta tese.
Decerto que alguns de vós já visitaram a casa de um amigo. Amigo esse que tinha um belo quadro na sala de estar, que, por sinal, os meus caros nunca haviam reparado. Mas, certo dia, quando tornaram a visitar a casa desse amigo, o olharam e elogiaram, sendo ele novo para vós!
Ora, a quantidade de pormenores que nos ultrapassa é incrivelmente assustadora!
É importante 'ver' em vez de, apenas, 'olhar' e é ainda de maior importância sentir o que olhamos porque, algo que nos é indiferente hoje, pode fazer a grande diferença amanhã.

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Fernando Pessoa na Publicidade

'Primeiro estranha-se. Depois entranha-se.'

'Uma cinta Pompadour veste bem e ajuda sempre a vestir bem'

'Seja qual for a linha da moda na Toilette feminina é sempre indispensável uma cinta Pompadour.'

'Eu explico como foi (disse o homem triste que estava com uma cara alegre), eu explico como foi..."Quando tenho um automóvel, limpo-o. Limpo-o por diversas razões: para me divertir, para fazer exercício, para ele não ficar sujo. "O ano passado comprei um carro muito azul. Também limpava esse carro. Mas cada vez que o limpava, ele teimava em ir-se embora. O azul ia empalidecendo, e eu e a camurça é que ficávamos azuis. Não riam... A camurça ficava realmente azul: o meu carro ia passando para a camurça. Afinal, pensei, não estou limpando este carro: estou o desfazendo. "Antes de acabar um ano, o meu carro estava metal puro: não era um carro, era uma anemia. O azul tinha passado para a camurça. Mas eu não achava graça a essa transfusão de sangue azul. "Vi que tinha que pintar o carro de novo. Foi então que decidi orientar-me um pouco sobre esta questão dos esmaltes. Um carro pode ser muito bonito, mas, se o esmalte com que está pintado tiver tendência para a emigração, o carro poderá servir, mas a pintura é que não serve. A pintura deve estar pegada, como o cabelo, e não sujeita a uma liberdade repentina, como um chinó. Ora o meu carro tinha um esmalte chinó, que saía quando se empurrava. "Pensei eu: quem será o amigo mais apto a servir me de empenho para um esmalte respeitável? Lembrei-me que deveria ser o Bastos, lavadeira de automóveis com uma Caneças de duas portas nas Avenidas Novas. Ele passa a vida a esfregar automóveis, e deve portanto saber o que vale a pena esfregar. "Procurei-o e disse-lhe: Bastos amigo, quero pintar o meu carro de gente. Quero pintá-lo com um esmalte que fique lá, com um esmalte fiel e indivorciável. Com que esmalte é que hei-de pintar? "Com Berry/Loid, respondeu o Bastos e só uma criatura muito ignorante é que tem a necessidade de me vir aqui maçar com uma pergunta a que responderia do mesmo modo o primeiro chauffeur que soubesse a diferença entre um automóvel e uma lata de sardinhas". (Publicidade às tintas Berry/Loid).

Os último dez anos da vida de Fernando Pessoa foram dedicados à construção de slogans e textos publicitários. Pessoa limitou-se a ir para além de si, explorando ao pormenor todo o tipo de escrita.
Na publicidade, Pessoa fez-se sobressair afirmando que há dois aspectos fundamentais a ter em conta: 'o público a atingir e os processos a empregar para os atingir.'; dividiu ainda o público alvo em três categorias: 'o público em geral, o vago público possível, qualquer que seja e sem que se determine nele classificação alguma; o público rico e luxuoso, em que é próprio viajar, e que, deste modo, se distingue e se destaca do público em geral; o público especial, composto de elites, artistas, intelectuais, e outros assim, que, se por si não vale muito, vale todavia pela influência que dele irradia sobre o público rico, em primeiro lugar, sobre todo o público, em segundo.'.
Para Fernando Pessoa, a argumentação na publicidade não deve ser desprovida de elegância, contornando assim a ideia de texto publicitário.
O conceito de Advertising Crosswords foi explorado por Pessoa na elaboração dos seus textos publicitários; este conceito consiste em organizar problemas de palavras cruzadas, em que o nome do produto a publicitar irá ser a solução. A publicidade às tintas Berry/Loid tem este conceito predefinido. O problema desenvolve-se em redor do esmalte. O Homem triste quer um bom esmalte e vai ter com o senhor Bastos, que lhe responde sábio: Tintas Berry/Loid - solução apresentada;
Pessoa introduziu assim, no nosso país, o conceito de marketing.

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Aquele Dia...

Elizeu recorda, ainda com alguma angústia, aquele dia...
Estava no cimo da serra e, sem dar conta, nevava bastante. O nevoeiro caía desalmadamente e não havia como conter o desespero sentido no momento. Era um sentimento de clausura, de solidão, de desorientação total. Ninguém comunicava. Liz nem sabia ao certo se havia outro alguém por perto...
Sentia-se isolado, num espaço branco, vazio, mas que anteriormente havia abarrotado. Sentia-se como quem luta contra um colete de forças e acredita poder vencê-lo. Mas Liz sabia que era impossível vencer tais forças da Natureza.
Fala no momento angustiante, muito sofredor, por que passou quando o medo despertou e o desejo de reencontrar o filho se tornava cada vez mais forte. Relembra a decisão tomada, por desespero, de o procurar...sem sucesso. Liz descreve o nevão como sendo cada vez mais forte e impiedoso. O frio era mortal e fala ter-se perdido dele mesmo. Desmaiou.
Minutos, horas, talvez dias depois, diz Elizeu, desconhecedor do tempo que passou inconsciente, despertou. Estava numa residência que acolhia vítimas da tempestade.
Na verdade, Liz passou três dias sobre o gelo. Considero um verdadeiro milagre, um homem com os seus sessenta anos, mesmo apresentando estatura alta e sendo notavelmente forte, tenha sobrevivido a tão penosa tragédia.
Liz, como lhe chamo, olhou-me nos olhos e pediu para ver o filho, Francisco, que havia estado com ele aquando a tempestade.
Francisco, de trinta e dois anos e notáveis problemas cardíacos, era a única família próxima que restava a Liz.
Não contive as lágrimas. Passados poucos minutos, procurei-o com os olhos, num olhar desmentido, e falei-lhe na morte do filho.
Liz não teve reacção imediata. Apenas uns minutos mais tarde deixou molhar a face com lágrimas de sofrimento, mantendo a sua expressão imóvel.
A situação da sua saúde complicou-se com a notícia da morte do seu ente. Elizeu desenvolveu problemas mentais e paralisias.
Passou a reviver em vez de viver.
Liz apenas guardou na sua memória o sofrimento por que passou naqueles longos dias. Acordava todos os dias, mas vivia apenas um. Contava-me sempre a história 'daquele dia'.
Acompanhava Liz sempre que podia. Nas refeições, eu estava presente. Também lia bastante para ele. Sabia que ele me reconhecia pelo brilho nos olhos com que me recebia.
Com o passar do tempo, a saúde de Liz ia agravando, chegando ao ponto de o impedir de falar como outrora o fazia.
Das poucas palavras que falava, Liz repetia as palavras - neve, serra, filho, morrer -, deixando cair uma lágrima ao repetir-las consecutivamente.
Chegado, novamente, o tempo dos dias frios e das tempestades, saí da residência de acolhimento, acompanhada por Liz.
Decidi levá-lo novamente à Serra, precisamente ao local onde foi encontrado o corpo gélido e morto de Francisco.
Chegados ao local, notei que havia um misto de emoções em Liz. Tinha um brilho nos olhos e a face lavada em lágrimas.
Pediu-me que o estendesse sobre a neve, onde havia morrido o filho.
O céu estava limpo e escuro. Era possível observar estrelas enormes e brilhantes.
Sentei-me a seu lado. Peguei-lhe na mão e comecei a ler-lhe um livro.
Liz agradeceu-me. Era notável a felicidade que sentia por estar sobre aquela neve. Talvez o fizesse sentir-se mais próximo de Francisco.
Sentia que Liz me apertava várias vezes a mão, com a pouca força que tinha, em sinal de gratidão.
Horas mais tarde, sob aquele céu reluzente, estendido na neve onde morrera Francisco, com um sorriso nos lábios e os olhos molhados de lágrimas, Liz morre.

terça-feira, 3 de junho de 2008

A Correspondência de Fradique Mendes - Eça de Queiroz


"Padre Salgueiro, hoje, já esqueceu regaladamente a significação theologica e espiritual do casamento: - mas casa, e casa com pericia, com bom rigor liturgico, com boa fiscalisação civil, esmiuçando escrupulosamente as certidões, pondo na benção toda a uncção prescripta, perfeito em unir aos mãos com a estola, cabal na ejaculação dos latins, porque é subsidiado pelo Estado para casar bem os cidadãos e, funcionário zeloso, não quer cumprir com defeitos funcções que lhe são pagas sem atrazo."


"A sua ignorância é deliciosa."


"Bastava ter o illimitado querer - para d’elle tirar o illimitado poder. Eis-ahi em Ramèzes um sêr que tudo quer e tudo póde, e a quem Phtah, o Deus sagaz, diz com espanto: « a tua vontade dá a vida e a tua vontade dá a morte! »"

segunda-feira, 2 de junho de 2008

A Grande Conquista Portuguesa


Salazarista, um regime de opressões e censuras, onde o mais fraco é promovido a ignorante, por conveniência, e o mais audaz é perseguido pela PIDE e, quando feito prisioneiro, é torturado física e psicologicamente, até lhe ser arrancada, pelas palavras, a confissão.
Foi ao som de Zeca Afonso, com o tema 'Grândola, Vila Morena', que caminhámos na direcção da Liberdade.
Vencemos a mais sofrível Revolução sem mancha de sangue presente. Conquistámos a nossa liberdade, independência e autonomia de forma tão irónica, tão inesperada, que à Revolução mais conceituada do país chamámos de Revolução dos Cravos - pelo glorioso momento em que as crianças plantaram, nos canos das espingardas dos militares, um cravo -;
Trinta e quatro anos após o grande dia da Restauração da República, parte de nós crê que, talvez, não tenha sido tão profícua a derrota do regime ditatorial!
» 'Pelo menos no tempo do Salazar não havia a violência que há hoje' - dizemos nós!
Por parte, é susceptível esta atitude, mas, não será ela um atentado à imagem de todo aquele que sofreu o peso da tortura?!
Afinal queremos liberdade ou... tortura?!
...Típico do povo português! Não pensa [nem age], apenas diz...
A liberdade individual é o maior bem que possuímos. Para quê recusá-la ou vendê-la a outrem?
A Revolução dos Cravos é pecúlia demais para ser pobremente ignorada. Porque não logramos a liberdade que possuímos em algo útil, original e sensato, como a recordação desde dia?
Se 'O Povo é quem mais ordena' e se 'A união faz a força', porque não tornarmos isso real e vivermos esse tão importante dia com a emoção e respeito que merece, recordando-nos?

sexta-feira, 25 de abril de 2008

Os Pecados Inocentes

Na minha pele, não vejo cor, vejo brilho;
Mesmo as mãos transparecem de prazer impossível
Com sentimentos muito mais ruborizados.


Na minha pele, não vejo cor nem brilho.
As lágrimas, tão cálidas, dos pensamentos gritam ao pecado,
E a pele converte-se brilho lúgubre para apaziguar as cores.


Os gritos das lágrimas - não ouviste gritos,
Mas só murmúrios de brilho e pensamentos de cor.
E a coragem do pecado ganha luz nos afectos.


Na minha pele, porém, não acaricias lábios,
Que cessam todos na rubra ou na escarlate,
Ou em cor tentadora.


A minha pele não é culpada.
A cor da minha pele é que é culpada.
Culpada é o que não quero poder ser.

terça-feira, 22 de abril de 2008

O saber da ignorância...

A violência nas escolas é, deveras, um tema problemático actual.
Ao longo dos tempos, as condições económico-sociais portuguesas têm caído.
Muitos dos pais afirmam ser desnecessária a instrução dos seus. Actualmente, ter um curso superior não enriquece ou salienta alguém...
Hoje, bastantes jovens revoltam-se contra as escolas e corpos docentes.
São inúmeros os divórcios alunos/escola assistidos em sociedades desenvolvidas.
Podemos afirmar, seguramente, que as escolas portuguesas são inteiramente culpadas?
As escolas somente deveriam instruir os alunos e não civilizá-los. A conduta destes depende inteiramente da educação exercida pelos pais.
Os ditos 'alunos problemáticos' promovem o pânico e a insegurança. Mas, estes são a minoria perante milhares de alunos benignos.
É incorrecto julgar ignorante, não somos dignos de prestigioso dom.

quarta-feira, 12 de março de 2008

'Opinião Pessoal vs Mass Media'

O que dizemos pensar, o que chamamos de 'Opinião pessoal' - (aquilo que dizemos em função das sagradas palavras que nos fazem engolir, sem mastigar primeiro) - , não passa de uma 'versão pessoal' do que nos é transmitido.
»Palavras sagradas?! Que engolimos sem mastigar primeiro?!
Se não estivessem destacadas estas perguntas, os leitores, provavelmente, tê-las-iam ignorado!
Há que ter um olhar crítico em relação ao que vimos e ouvimos, ao que nos é dito porque, caso contrário, corremos o risco de nos transformarmos em marionetas, que agem sob a força de alguém superior!
Há que criticar o que nos é transmitido pelos jornais, revistas, televisão ou Internet porque apenas sabemos o que querem que saibamos.
Basta! Temos de nos libertar desses 'fios' que nos impedem de olhar o mundo, de explorar o que nos rodeia, de descobrir a verdadeira verdade, pois só assim podemos comparar a realidade dos Mass Media com a nossa realidade e formular a bem dita 'opinião pessoal', em vez da 'versão pessoal - (na qual apenas dizemos, por palavras nossas, o que já nos foi dito pelos Mass Media).

quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Aquelas Manhãs...

São aquelas manhãs, frias,
Em que o sol se reflecte no orvalho
Caído sobre os malmequeres adormecidos
E os acorda...
São aquelas manhãs, frias,
Em que o sol se reflecte na água quase gelada
Que enche o lago...e a aquece...
São aquelas manhãs, frias,
Em que o sol se reflecte na janela
Gélida do meu quarto...e me desperta...
São aquelas manhãs, frias,
Que morrem num instante,
E sem dar conta do tempo, são trocadas pela noite,
E são nessas noites, frias,
Que o sol deixa de me iluminar...
Fico desamparada e tudo perde a cor...
...Então vou sonhar...!
E quando acordo...já sinto o frio daquelas manhãs.

...O Significado da Poesia!

A Poesia...A pura Poesia!
Que me transforma,
Que fala por mim,
Que me faz adormecer no mundo concreto
E sonhar com a realidade...
Que me mostra o que quero ver,
Que me alcança, serenamente,
E me diz, baixinho, o que quero ouvir...
Que me mostra uma papoila do campo
E diz que o mundo é assim...simples...aberto...
E me faz feliz...
Que me mostra uma rosa de estufa
E diz que sou assim...complexa...fechada...

E me desilude...
Que toca p'ra mim e me faz cantar o que penso,
Que me mostra as pautas
E me faz criar um novo mundo, sonhador...
Que me faça sentir bem e livre,
Que me deixe pensar no que digo...e escrever o que penso...

Florbela Espanca

Nascida a 8 de Dezembro de 1894, em Vila Viçosa, Florbela Espanca foi uma das maiores poetisas portuguesas.
Desde muito jovem, que a sua vida não é fácil.
Florbela assistiu à morte da mãe, muito cedo, era filha bastarda e, apesar de ter vivido com o seu pai, só anos mais tarde foi assumida por ele. Deparou-se com a morte do irmão, com quem traçava laços muito fortes, ficando totalmente de rastos.
As suas paixões iam fugindo...iam surgindo...iam fugindo... Todos os seus casamentos fracassaram.
Passou a vida a amar e a esquecer!
'A Vida e a Morte', foi o seu primeiro poema, escrito com apenas sete anos.
A poesia de Florbela recorre a temas como a morte, o sofrimento, a solidão, o desejo de felicidade, a paixão humana, o erotismo (descrevia os atrevimentos inquietos do amor, a sua intimidade está exposta, escrita com uma perturbação ardente)...
Temas que se desenrolaram ao longo da sua vida, momentos e experiências vividas, são abordados nos seus poemas.
Florbela optou por escrever os seus poemas em soneto (poema composto por duas quadras e dois tercetos, constituídos por versos decassílabos), utilizado também por Camões. A sua poesia aproxima-se do neo-romantismo.
Com os inúmeros desgostos que a vida lhe reservou, afectada pela morte do seu estimado irmão e cansada dos casamentos fracassados, Florbela tentou suicidar-se. Em Dezembro de 1930, descobre que tem graves problemas de saúde, sobretudo a nível psicológico, e acaba com a sua vida.
A sua ultima obra foi 'Charneca em Flor' - publicada já depois da sua morte, assim como muitas outras obras.