quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Aquelas Manhãs...

São aquelas manhãs, frias,
Em que o sol se reflecte no orvalho
Caído sobre os malmequeres adormecidos
E os acorda...
São aquelas manhãs, frias,
Em que o sol se reflecte na água quase gelada
Que enche o lago...e a aquece...
São aquelas manhãs, frias,
Em que o sol se reflecte na janela
Gélida do meu quarto...e me desperta...
São aquelas manhãs, frias,
Que morrem num instante,
E sem dar conta do tempo, são trocadas pela noite,
E são nessas noites, frias,
Que o sol deixa de me iluminar...
Fico desamparada e tudo perde a cor...
...Então vou sonhar...!
E quando acordo...já sinto o frio daquelas manhãs.

...O Significado da Poesia!

A Poesia...A pura Poesia!
Que me transforma,
Que fala por mim,
Que me faz adormecer no mundo concreto
E sonhar com a realidade...
Que me mostra o que quero ver,
Que me alcança, serenamente,
E me diz, baixinho, o que quero ouvir...
Que me mostra uma papoila do campo
E diz que o mundo é assim...simples...aberto...
E me faz feliz...
Que me mostra uma rosa de estufa
E diz que sou assim...complexa...fechada...

E me desilude...
Que toca p'ra mim e me faz cantar o que penso,
Que me mostra as pautas
E me faz criar um novo mundo, sonhador...
Que me faça sentir bem e livre,
Que me deixe pensar no que digo...e escrever o que penso...

Florbela Espanca

Nascida a 8 de Dezembro de 1894, em Vila Viçosa, Florbela Espanca foi uma das maiores poetisas portuguesas.
Desde muito jovem, que a sua vida não é fácil.
Florbela assistiu à morte da mãe, muito cedo, era filha bastarda e, apesar de ter vivido com o seu pai, só anos mais tarde foi assumida por ele. Deparou-se com a morte do irmão, com quem traçava laços muito fortes, ficando totalmente de rastos.
As suas paixões iam fugindo...iam surgindo...iam fugindo... Todos os seus casamentos fracassaram.
Passou a vida a amar e a esquecer!
'A Vida e a Morte', foi o seu primeiro poema, escrito com apenas sete anos.
A poesia de Florbela recorre a temas como a morte, o sofrimento, a solidão, o desejo de felicidade, a paixão humana, o erotismo (descrevia os atrevimentos inquietos do amor, a sua intimidade está exposta, escrita com uma perturbação ardente)...
Temas que se desenrolaram ao longo da sua vida, momentos e experiências vividas, são abordados nos seus poemas.
Florbela optou por escrever os seus poemas em soneto (poema composto por duas quadras e dois tercetos, constituídos por versos decassílabos), utilizado também por Camões. A sua poesia aproxima-se do neo-romantismo.
Com os inúmeros desgostos que a vida lhe reservou, afectada pela morte do seu estimado irmão e cansada dos casamentos fracassados, Florbela tentou suicidar-se. Em Dezembro de 1930, descobre que tem graves problemas de saúde, sobretudo a nível psicológico, e acaba com a sua vida.
A sua ultima obra foi 'Charneca em Flor' - publicada já depois da sua morte, assim como muitas outras obras.