quarta-feira, 3 de junho de 2009

Cesário Verde, um pintor nascido poeta.

Seguidor de Eça de Queirós, Cesário Verde é um dos poetas que, na poesia lusa, melhor representam o realismo. Ele rege-se pelo seu realismo lírico, desimportando o realismo irónico de Eça, mas sem nunca deixar de recorrer a ele.
Cesário assume ainda um papel parnasiano; Ele converte o objecto para que a nossa interpretação dele seja positiva. Outro aspecto do Parnasianismo é a abstracção de qualquer sentimento do criador em relação ao objecto. Cesário concentra-se apenas nos sentidos, fazendo com que os sentimentos que o objecto transmite sejam despertados apenas no observador. Posto isto, concluímos que Cesário se isenta de sentimentos, encaminhando-se somente pelos sentidos.
Foi ainda Cesário Verde que, com todo este misto de aspectos da escrita, abriu portas ao Modernismo.
'Um pintor nascido poeta' é como intitulamos Cesário. Ele é um colorista nato e, nos seus versos, a cor não caracteriza o referente, a cor é o próprio referente e tem em volta de si vários objectivos. Na sua visão pictórica reina a cor, ele é o elemento mais fecundo; O sentido 'visão' está muito presente nele.
Além de colorista, Cesário Verde é um selectivo. Ele selecciona rigorosamente o que quer mostrar-nos ou dizer-nos e apenas expõe a realidade que quer que compreendamos.
Os seus versos salubres e sinceros elucidam unicamente a sua poesia realista. Os seus versos não são mais que revelações dos seus sentidos, da sua visão.
Cesário apresenta-se ainda como anti-retoricista. Ele não adorna as palavras, não as floreia como na retórica mas escolhe as mais simples, ainda que delicadas, cuidadas, elegantes.
Na carta a Silva Pinto (1879), sobressai um excerto que esclarece a poesia de Cesário: 'São uns versos agudos, gelados, que o Inverno passado me ajudou a construir; lembram um poliedro de cristal e não sugerem por isso quase nenhuma emoção psicológica e íntima. Mas ao menos bem o conheço.'

«Versos agudos, gelados (..) que não sugerem por isso quase nenhuma emoção psicológica e íntima»: versos isentos de sentimento; «que o Inverno me ajudou a construir»: é notavél a exaltação dos sentidos; «lembram um poliedro de cristal»: a atitude pictórica de Cesário está bem explícita neste momento. Um poliedro é um objecto bem definido, o cristal além de ser o mais desejado mineral é ainda opaco, translúcido e que, quando iluminado, desenha linhas de cor; «Mas ao menos bem o conheço»: Ora, Cesário constrói os seus versos, os seus poemas, e selecciona apenas o que quer realmente transmitir-nos, portanto, ainda que isento de sentimentos relativamente aos poemas, ele conhece-os, cria-os com a única intenção de fazer despertar o seu valor em nós, através dos nossos sentimentos.

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